quinta-feira, setembro 25, 2008

SOS Tartaruga Marinha

Na minha caminhada habitual na praia da avenida, em Ilhéus, vi um homem que fazia do seu caminhar um trajeto entre a beira do mar, onde ia coletando sacos plásticos, até a maior distância da água, já na restinga, onde ele os colocava. Não era um homem diferente dos outros, mas um homem normal, naturalmente direito como todos nós deveríamos ser. Sobretudo, ele estava protegendo tartarugas e a lição estava logo adiante, quando ele esbarrou numa grande tartaruga morta.
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A Rainha do Mar é um símbolo de resistência às alterações globais. Vivem nos mares a 100 milhões de anos, e sobreviveram além dos dinossauros, extintos a 65 milhões de anos, mas têm tido sérias dificuldades para sobreviver a um tão jovem habitante da terra, o Homem.
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Presa fácil dele, viraram iguarias, e seus ovos, omeletes, quando completamente desprotegidas vêm desovar nas mesmas praias de sempre. Também foram perseguidas pelas propriedades de sua carapaça. A poluição complementa a matança, pois sempre confundem sacos plásticos ou celofane misturados com água-vivas (sua refeição predileta), e morrem sufocadas. Para completar, são afogadas em redes de pesca, principalmente as de camarão.
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O resultado? Um prodígio da irracionalidade, conseguimos colocar as oito espécies de tartarugas existentes nos mares na lista dos animais ameaçados de extinção.
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A Tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) encontrada morta na Praia da Avenida Soares Lopes, em Ilhéus, nos dia 23 de Setembro de 2008 é mais um registro da Associação Pró-Vida Silvestre de animais mortos ou em em situação de risco. As imagens ainda serão analisadas por especialistas, mas temos várias indicações de que ela se afogou depois de se debater numa rede, possivelmente de camarão, e isto não poderia ter acontecido, pois dois motivos.
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O primeiro é que estamos em pleno defeso da pesca do camarão, que na Bahia é de 1 de Abril a 15 de maio, e de 1 de Setembro a 30 de Outubro. Segundo, porque, desde 1994, todas as redes de pesca de arrasto de camarão devem, por lei, adotar um "dispositivo de exclusão de tartarugas" (DET). Esse equipamento consiste na abertura de uma grade de metal, instalada no interior do corpo da rede, para permitir que a tartaruga escape. O camarão pescado nestas condições pode ser comercializado com o certificado Turtle Safe (tartaruga salva).

TAMAR: UM PROJETO SALVADOR

Das vinte e uma bases do Tamar no Brasil, sete estão na Bahia (Mangue Seco, Sítio do Conde, Subaúma, Praia do Forte, Arembepe, Itapuã e Mucuri), e seis aqui bem pertinho no vizinho estado Espíto Santo. Isto demonstra como a proteção da tartaruga marinha depende de nós.

O Tamar tem feito a sua parte. São 18 anos de projeto, atingindo na temporada 2007/2008, o número de 2,8 milhões de filhotes lançados ao mar e 14 mil indivíduos marcados. Uma das principais tarefas dos pesquisadores é proteger seus ninhos e permitir que os filhotes, desprotegidos e indefesos, sigam na grande luta pela sobrevivência, enfrentando predadores de todo tipo, para enfim, um ou dois filhotes de cada mil chegarem à idade adulta.

E se ela vencer todos os obstáculos, com a mão salvadora de projetos sérios e bem sucedidos como o Tamar, e chegar a fase adulta, 30, 40 anos depois, ainda dependerá de nosso nível de conscientização para sobreviver, reproduzir e salvar-se da extinção.
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Aqui no Sul da Bahia, os obstáculos não são poucos, pois nossos rios levam todo tipo de lixo para o mar (Veja a Reportagem Lixo nos Ambientes Naturais), e ainda precisamos trabalhar muito em Educação Ambiental para que os pescadores envolvam-se, de fato, na proteção da vida marinha, sem precisar de multas, apreensões e prisões.
Textos e Fotos: Paulo Paiva


Participe também e seja um Defensor da Vida:

Projeto TAMAR
Meio Ambiente HP: Tartarugas Marinhas
Vida Longa às Rainhas do Mar
Répteis
Tamar
Defenders of Wildlife
Boca Maldita: Defeso do Camarão continua na Bahia

sexta-feira, setembro 19, 2008

O Crescimento Econômico pode Acelerar a Justiça Social e a Proteção Ambiental ?


Vista de Serra Grande, antes da Estrada Ilhéus-Itacaré.
Foto de turista anônimo publicada na internet.
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Ilustrações de Peter van der e comentários traduzidos do Livro “The Economic Revolution”, de Willem Hoogendijk. Green Print, 1991.

Os números positivos do capitalismo brasileiro aumentam a esperança que a matemática da aceleração do crescimento possa vir acompanhada de metas de qualidade social e ambiental, e melhore os índices sócio-econômicos. O PAC - Plano de Aceleração do Crescimento tem gerado duros embates por todo o país, e a sociedade brasileira procura avançar no grande debate da atualidade: SUSTENTABILIDADE.
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Com a nossa elasticidade democrática à prova, governo e sociedade estão aprendendo a conversar, mas enquanto isso, vamos liberando as tensões acumuladas: órgãos do governo desafinando no planejamento participativo, índios boicotando hidrelétricas, movimentos sociais do campo radicalizando contra o agronegócio, empresários querendo atropelar a legislação ambiental, e os ambientalistas? Estes estão com os nervos "à flor da pele”!
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No sul da Bahia, o projeto de uma ferrovia, um porto e uma mineradora em um Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica divide a sociedade, distanciando os conceitos de ecologia e economia, apesar de estarem intimamente relacionados.
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Diante disto nos perguntamos: Como interagir a economia, a ecologia e a justiça social?
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No caso desta região cacaueira, já são duas décadas de uma economia fraca, de baixos investimentos e sem horizontes claros. Uma crise profunda e de alto custo para a um território marcado por um Baixo Índice de Desenvolvimento Humano. É nesse cenário sem motivações, que a região ressurge como área estratégica para grandes investimentos em infra-estrutura nacional e para a atuação de empresas de grande porte.
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Deveríamos estar comemorando, afinal, são bilhões de reais, mas o clima é de insegurança e incerteza. Isto ocorre, porque o fantasma da degradação ambiental persegue esses projetos. No conjunto dessas novidades para a nossa economia regional está Petrobrás, que no Brasil, tornou-se o referencial de sucesso empresarial, e que, portanto, procura ser referencia na adoção de medidas de responsabilidade sócio-ambiental, como a sociedade brasileira exige..
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PRIMEIRA REFLEXÃO DO AUTOR

"O dinheiro para as despesas coletivas são fornecidos pela produção e pelo comércio. Com o grande aumento da produção nesse século, aumentou muito os recursos públicos, mas os danos sociais e ambientais podem aumentar exponencialmente, e de forma explosiva, estas despesas. Este desenvolvimento pode gerar resultados negativos na economia e nos obrigar a reconsiderar todo o sistema, fazendo com que, volumes decrescentes de produção, signifiquem: progresso real."
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Estamos distantes do “boom” de empregos verdes da nova indústria da energia renovável, como acontece na Alemanha e Espanha, mas também, esperançosos de que o capital ecológico do sul da Bahia, como por exemplo, a biodiversidade recorde de árvores, possa nos beneficiar com os milhões de novos empregos, que, segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas, serão criados pela transição a uma economia global de baixa emissão de carbono. No entanto, ainda vivemos o apogeu da exploração dos combustíveis fosseis e não temos como transformar a economia, milagrosamente, do dia para a noite, mas podemos pensar em direcionar seu curso, prevendo o futuro.
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Nesse aspecto, concordamos com a afirmação do ambientalista Rui Rocha, quando coloca a seguinte questão: como utilizar as riquezas que serão geradas nas próximas décadas, oriundas de recursos finitos como o petróleo, para fomentar arranjos produtivos regionais sustentáveis de longo prazo?
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DIÁLOGO
A Hora da Democracia Participativa

O termo sustentabilidade tem agregado valores a seu significado que vão além de uma prudência ecológica e da necessidade ao manejo racional dos recursos naturais, tornando-se imprescindível relaciona-lo também, a eficiência econômica, valorização do capital humano, a justiça social e o respeito à diversidade cultural.

Suas práticas requerem uma ampla revolução, que diz respeito não apenas ao governo e as empresas, mas a mudanças culturais e de estilo de vida de cada um de nós, pois todos querem crescer, seja quem produz, quem vende ou quem consome, e mudar padrões de produção é tão difícil quanto mudar padrões de consumo.
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Quando chega a hora de investir, produzir, não tem jeito, é a hora do diálogo entre todos os setores da sociedade, pois a qualidade e os resultados dos investimentos influenciará diretamente a vida de todos nós. E para que esse diálogo seja pleno, é fundamental investir em educação, informação e na mobilidade social para utilizar os instrumentos da democracia participativa, fortalecer as instituições e legitimar a extraordinária legislação ambiental, que fora democraticamente construída nos últimos vinte anos.

O crescimento sustentável, portanto, depende de políticas públicas afinadas com a sociedade civil, de uma nova empresa comprometida com novas tecnologias e com a sua responsabilidade sócio-ambiental. Depende também de um patamar de qualificação que permita enriquecer a avaliação do custo-benefício dos projetos de desenvolvimento, a adoção de tecnologias de baixo impacto. Sobretudo, o licenciamento ambiental deve ser levado a sério como um instrumento qualificador do planejamento, e indicador da sustentabilidade social e ambiental.
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SEGUNDA REFLEXÃO DO AUTOR

“Sob o chicote da aquisição de dinheiro, o produção e o comércio modernos tornaram-se uma extensão tão prejudicial que o resultado líquido de nossas economias cresceu negativamente. A solução é acalmar a economia para baixo, uma economia estabilizada, com investimentos sob o controle democrático e uma produção que permanece dentro dos limites ecologicamente sadios. Assim, o capital já não é um mestre, mas um empregado de correção e de regulamento: forragem para o cavalo e o óleo para as rodas.”
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Economia Ambiental tem os segredos da conservação ambiental

Se cada ator, cada cidadão assumir o seu papel no processo, podemos acreditar que o crescimento econômico poderá acelerar a proteção ambiental e a justiça social. Um licenciamento bem articulado, por exemplo, pode favorecer a proteção florestal e fomentar o desenvolvimento social local, diminuindo cada vez mais o fosso entre educação, pobreza e degradação ambiental.
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Os recursos para os investimentos sociais e a proteção ambiental que precisamos exige o crescimento econômico. Colocado nos trilhos certos, o crescimento trás a possibilidade real de investimentos, não só em estradas, ferrovias e portos, mas em reservas ambientais, pesquisa, educação, informação e cultura.

Por fim, o crescimento econômico, associado a educação, às novas tecnologias e a qualificação do capital humano, que é o grande diferencial de crescimento entre os países, nos trará autonomia para diminuir a dependência externa, de países ricos ou classes dominantes, na proteção do meio ambiente e resolução de nossas mazelas sociais. Além do que, sem dinheiro e educação, somos presas fáceis para os especuladores de todo tipo.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Rio Almada

Nesta segunda reportagem sobre o Almada, apresentamos o trabalho de um documentarista, e seu olhar atento às paisagens do rio, que é um patrimônio ambiental do sul da Bahia.

FOTOS DE MARCOS SOUZA
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Imagens exclusivas do fotógrafo e documentarista, nascido em Itajuípe.
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Área de Proteção Ambiental
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A proteção da Lagoa encantada, assim como a Mata da Esperança, é um ideal antigo dos ilheenses. A Lagoa Encantada foi tombada em 1991 como patrimônio ambiental pelo município de Ilhéus, e sua relevância ecológica extraordinária fez com que o governo estadual criasse a Área de Proteção Ambiental - APA da Lagoa Encantada, em 1993.

Em 2003, a APA foi ampliada em direção às nascentes e ao estuário do Rio Almada, perfazendo uma área total estimada de 157.745 ha, abrangendo os Municípios de Ilhéus, Uruçuca, Itajuípe, Barro Preto, Coaraci e Almadina, também recebendo riachos contribuintes do município de Itabuna. Estava criada então, a  Área de Proteção Ambiental Lagoa Encantada e Rio Almada.
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Esta é uma APA especialíssima. Primeiro, por que tem como um de seus principais objetivos, conservar a água. Segundo, por ser o blinde final de uma festa da natureza. Um mosaico de ecossistemas,  associados a mata atlântica, a floresta Ombrófila e Semidecidual, restingas, alagados e manguezais. Sua paisagem é a mais típica da região cacaueira, com grandes extensões de cacau plantado sobre a mata. Mas, um dos fatores que mais chama atenção é a presença marcante das comunidades tradicionais de pequenos agricultores, extrativistas e pescadores, que reflete o objetivo geral de uma unidade de conservação onde há presença do homem: a busca do desenvolvimento sustentável.
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A administração da APA vem desenvolvendo desde 2002 um programa pioneiro de gestão participativa, com a implantação de um Conselho Gestor, composto por 33 entidades governamentais e não governamentais, envolvendo os seis municípios através dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, e representações de vilas e povoados. O município de Itabuna, apesar de não estar no perímetro da APA, também participa do Conselho como um dos principais usuários das águas do Almada.
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Irmãos de Água
Um curso de rio que muito diz, da história, cultura, necessidades de um povo, e de um tanto que todos temos que fazer para assegurarmos o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida de uma das áreas com menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil.

Almadina - Berço do rio
Município com 6.604 habitantes (2007)
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Região de Sete-Paus

Coaraci
26.204 habitantes (2004)
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O rio sofre sem a mata ciliar.

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Vazão crítica na estiagem: o remédio é reflorestar.


Itajuípe 21.269 habitantes (2004)

O rio que sofre impactos do lançamento de esgotos, mas renova-se e recicla suas águas.
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Lago Humberto Badaró















O Almada em Ilhéus
Um rio vigoroso e fortalecido pela mata atlântica e as árvores das fazendas de cacau.
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Rodovia Ilhéus - Uruçuca
Banco do Pedro
Distrito ilheense distante 40 quilômetros da sede.
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Um curso em áreas predominantemente rurais, marcado por comunidades isoladas e com baixos índices sociais.







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Juerana
Vila de pescadores, na estrada Ilhéus-Itacaré. Referência de Gastronomia do Guaiamum. 















Castelo Novo
Distrito mais antigo de Ilhéus.
O Almada recebe água de inúmeros riachos ao longo do seu curso, que ajudam a manter seu potencial hídrico.





A mata atlântica e o rio são indissociáveis. Essa parceria faz do Almada um dos rios mais bem conservados do sul da Bahia.
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Rumo Náutico para a Lagoa Encantada
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O rio Almada se junta a Lagoa Encantada para formar uma grande reserva de água disponível para o consumo.



Aritaguá
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O Almada na enseada, interagindo com os manguezais










..........São Miguel
O Almada encontra-se com o mar e com a pesca que ajuda a conservar.