quarta-feira, novembro 04, 2009

Os Números da Decadência

por Gerson Marques

Há pelo menos vinte anos nossa cidade tem convivido de forma íntima com a palavra crise. Não só a palavra, mas suas consequências e efeitos estão a permear a vida da cidade por todos os lados, seja nas péssimas condições da infra-estrutura publica, seja na baixíssima qualidade dos serviços e políticas ofertados aos cidadãos.

Mesmo passado mais de vinte anos da aparição da Vassoura-de-Bruxa, praga que arrasou a economia do sul da Bahia, cidades como Ilhéus e Itabuna não conseguiram ainda encontrar um rumo, nem mesmo esboçar uma reação organizada e planejada que permitisse vislumbrar uma saída.

Uma das faces mais cruéis da crise regional pode ser vista no enorme número de desempregados que perambulam pelas ruas e periferia das cidades. Em Ilhéus este drama é ainda mais cruel. Ao analisar os números do Ministério do Trabalho disponibilizados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), salta aos olhos o tamanho do buraco que a cidade está. Para se ter uma idéia, nos últimos quase dez anos, de janeiro de dois mil a agosto de dois mil e nove, a cidade ampliou em apenas dois mil seiscentos e oitenta e oito a oferta de novos empregos, numa variação relativa de 15,59%, sobre a década anterior ao passo que o estado da Bahia no mesmo período ampliou em 49,26%.
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Quando comparamos o crescimento do emprego em Ilhéus com o de outras cidades do interior da Bahia, os números são ainda mais cruéis, veja abaixo.

Geração de emprego nas principais cidades do interior da Bahia no período de janeiro de 2000 a setembro de 2009 /Fonte: Caged/MTE

Feira de Santana: 28.760 empregos gerados, 70,07 de variação relativa e 75.726 empregados formais.

Camaçari: 22.278 empregos gerados, 90,63 de variação relativa e 59.037 empregados formais.

Vitoria da Conquista 11.532 empregos gerados, 51,17 de variação relativa e 44.110 empregados formais

Juazeiro 10.323 empregos gerados, 55,30 de variação relativa e 22.215 empregados formais.

Itabuna 6.145 empregos gerados, 26,97 de variação relativa e 36.637 empregados formais.
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Eunapolis 3.964 empregos gerados, 61,97 de variação relativa e 14.341 empregados formais.

Ilhéus 2.900 empregos gerados, 16,81 de variação relativa e 20.969 empregados formais.

Bahia 402.727 empregos gerados, 49,26 % de variação relativa e 1.342.235 empregados formais.

Estes números revelam um quadro de forte decadência em Ilhéus. A cidade tornou-se a quarta maior do estado no final da década de noventa com uma população acima de duzentos e vinte mil pessoas, atrás apenas de Salvador, Feira de Santana e Vitoria da Conquista. Ainda mantém esta posição, apesar de perder nos últimos anos milhares de habitantes. Os números acima ajudam a entender porque Ilhéus é uma das poucas cidades do Brasil que têm crescimento negativo de sua população, estimada hoje em menos de duzentos e vinte mil moradores.

O baixíssimo crescimento da oferta de empregos em Ilhéus em contraste com a condição de quarta maior cidade do estado, tem provocado conseqüências visíveis no aumento vertiginoso da violência que atinge principalmente os jovens, homens negros de baixa formação escolar, moradores dos morros e periferia da cidade, o principal contingente dos desempregados calculado em vinte e cinco mil pessoas.

Se considerarmos que os últimos dez anos são um dos melhores períodos na geração de emprego formais no Brasil com mais de onze milhões de novas vagas formais, a situação de Ilhéus fica ainda mais complicada.

Em 2009, houve em todo o país uma diminuição no ritmo de crescimento de empregos formais no primeiro trimestre do ano, em virtude dos reflexos da crise econômica mundial. Esta situação, porém, já foi plenamente superada no segundo trimestre do ano, com a geração de quase um milhão de novas vagas até agosto e previsão para mais de um milhão e duzentos mil até dezembro. Um ano excelente apesar da crise. Mesmo assim, em Ilhéus, o crescimento é negativo. Ou seja: contando de janeiro até setembro a cidade perdeu cento e vinte e seis empregos formais.

Geração de empregos formais em Ilhéus jan. a set. de 2009:
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Admissões: 4.731
Demissões: 4.875
Variação absoluta: -126
Variação relativa: -0,6%

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Fonte: caged/MTE

O mais incrível é que apesar destes números, não existe uma só estratégia publica para reversão deste quadro. A questão do desemprego em Ilhéus não faz parte dos discursos oficiais que aparentemente ignora esta situação.

É neste cenário que iniciativas como a do governo do estado e do governo federal de implantar em Ilhéus o complexo intermodal de transporte, chamado de Porto Sul aparece como uma esperança concreta para a cidade reverter os números de decadência que empurram os sonhos de uma Ilhéus desenvolvida para o buraco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Há muito tempo não leio um texto coerente falando do caos que tomou conta desta cidade.
Parabéns Marques e Paiva!

Anônimo disse...

Meu caro amigo,eu relmente entendo esse seu rápido parecer sobre essa tao bela cidade que de fato conheci nesse feriado que fiquei até o dia07, e me assustou bastante tao bela naturalmente e tao pobre socio economicamente.
É uma grande pena.