segunda-feira, março 28, 2011

Drenagem e Urbanização


Ilhéus precisa reformar seu Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e torná-lo efetivo para tornar claro um projeto para a cidade. O crescimento urbano nas últimas duas décadas impõe novos zoneamentos, reengenharia dos sistemas de drenagem, sistemas viários, racionalização dos espaços urbanos e serviços ambientais.

Não é um tema só de Ilhéus, mas da maioria das cidades brasileiras, confrontadas com históricos processos de ocupação e uso irregular do solo, e com a falta de planejamento. Aqui, os morros estão quase 100% impermeabilizados por ocupações de "ricos e pobres". A falta de áreas verdes colabora para tornar nosso sistema de drenagem mais sobrecarregado; outro problema que tem de ser enfrentado pelo município.


O município se esforça para melhorar a drenagem de água pluviais na região do Estádio Mário Pessoa e Avenida Soares Lopes, numa obra que tem dado dor de cabeça, mas que é necessária que seja enfrentada, já que essa área tornou-se uma bacia de drenagem de água do Morro do Pacheco, execessivamente ocupado, de onde também é carreado muito barro nas grandes chuvas.

Mas falar em um novo sistema de drenagem de água pluviais no centro de Ilhéus depende de outras decisões de reurbanização, que inclui o desenvolvimento de um projeto para a nova orla central da Avenida Soares Lopes, projeto que também é indispensável para se pensar em uma nova ponte entre o Cristo e a Litorânea Sul.

O fato é, que drenar as águas do centro da cidade implica em superar a barreira física do aterro natural da Orla da Avenida Soares Lopes, que está num nível mais elevado, impedindo as águas de serem escoadas para o mar. Uma coisa depende da outra: um novo sistema de drenagem para o centro de Ilhéus deve ser parte do projeto de uma nova orla, redefinindo-se a linha de areia da praia e áreas de restinga, e planejando a ocupação racional desse grande espaço ocioso, que é maior do que a área do centro da cidade de Ilhéus.



O presidente prometeu, e as lideranças políticas estão empenhadas em construir, pelo menos, uma nova ponte em Ilhéus, cidade que ainda deverá ter planejadas várias outras pontes, um assunto que trataremos em novas reportagens. É importante termos essa visão de conjunto e apostarmos nessas urgências integradas.

A nova orla de Ilhéus foi tema da primeira postagem desse blog, e motivo de carta ao prefeito para criarmos uma mobilização ampla e democrática por um projeto. Sei que queremos e podemos fazer mais, nesse governo e nos próximos, se nos orientarmos por um planejamento mais global, e numa meta de reestruturação da cidade em curto, médio e longo prazo, que possa nos orientar na busca contínua de soluções urbanas definitivas.

sexta-feira, março 25, 2011

O Cacau e o Minério de Ferro



TENSÃO, PREOCUPAÇÃO E MUITAS DÚVIDAS MARCAM ENCONTRO DOS CACAICULTORES COM A VALEC PARA DISCUTIR PROJETO DE FERROVIA.
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O traçado projetado para a Ferrovia Leste-Oeste atinge em cheio as fazendas de cacau do Sul da Bahia (200 propriedades), mas só agora, depois de denúncias de invasão de propriedade e corte arbitrário de cacaueiros por topógrafos, a VALEC ouve os cacauicultores em uma reunião no Sindicato Rural de Ilhéus. A reunião foi conduzida pelo engenheiro Neville Chamberlain Barbosa da Silva, representante do governo nessa penosa missão de nos convencer que o projeto é benéfico para a região.
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O encontro repetiu o que vem acontecendo toda vez que o projeto de exportar minério de ferro pelo Sul da Bahia é apresentado: muita tensão, dúvidas e interrogações.
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Não é nada fácil defender a ferrovia. O Sr. Neville Barbosa, homem distinto e educado, que enfrenta pressões de todos os lados em reuniões, normalmente, muito conturbadas; algumas vezes, parece acuado diante de tantos protestos. Mas ele, sem fugir das preocupações ambientais, encontra forças para defender que essa região demonstrou ao longo de sua história, que também é vocacionada para as ferrovias e portos, além do cacau e do turismo.
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O cacauicultor Henrique Almeida, Presidente da Associação dos Produtores de Cacau (APC), e que também possui uma roça que seria cruzada pela ferrovia, disse não acreditar que, com tantos avanços tecnológicos, não exista uma forma de transportar minério de ferro em vagões fechados. Nessas condições, afirmou, "as portas de minha roça estão fechadas para a VALEC".

O fato é que a ferrovia pretende exportar aproximadamente 19,5 milhões de toneladas de partículas de minério de ferro por ano, durante duas ou três décadas, e esse trânsito gigantesco de material poluidor atravessando 200 roças é algo muito sério, e um motivo de preocupação para a negócio do cacau.
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HENRIQUE ALMEIDA REFORÇOU A PREOCUPAÇÃO DE TODOS OS PRODUTORES: A CACAUICULTURA ESTARÁ SERIAMENTE AMEAÇADA SE HOUVER POLUIÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO DENTRO DAS LAVOURAS.

O professor da UESC Rui Rocha foi aplaudido ao defender o patrimônio ambiental da região cacaueira e apontar novos rumos para a atividade. Rui destacou que o estado não é apenas o governo, mas toda a sociedade, e que as decisões sobre o futuro de todos, não podem ser verticalizadas. Segundo o cientista, que estuda o projeto há três anos, a exportação de minério de ferro pelo Sul da Bahia é nociva ao cacau e prejudica a região.
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Segundo a cacauicultora Eulina Menezes Lavigne o projeto bilionário humilha os cacauicultores endividados e sem apoio do governo. Ela destaca que, além dos riscos ambientais, a presença do minério de ferro por aqui, mancha a imagem da região como produtora de alimentos orgânicos de alta qualidade, e estraçalha os esforços que tem sido feitos pela valorização do cacau do Sul da Bahia no exterior.
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O que mais chama atenção é que o projeto da Ferrovia Leste-Oeste e o Complexo Porto Sul, anunciado como um grande polo de exportação dos mais variados produtos, se afunilou para a exportação de minério de ferro. Não se fala em outra coisa, deixando portanto, muito claro, que o minério é a grande motivação desses projetos.
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Recentemente, li uma colocação do cientista Hernani Sá, um dos pioneiros das pesquisas com o biodizel, que me pareceu uma sentença muito interessante: "Só quero saber se essa ferrovia é dos chineses ou dos brasileiros, porque se for dos chineses eu sou contra!"

domingo, março 20, 2011

Porto da Bamin: O Parecer Contrário do IBAMA


A publicação do texto do Relatório Técnico do IBAMA pelo Blog do Gusmão negando a Licença ao Porto da Bamin, confirma algumas opiniões que temos defendido nesse blog. Já são três anos de busca de diálogo, e reflexão de opiniões sobre o projeto denominado Complexo Porto Sul.

Foram 29 postagens (aqui) para refletir os principais aspectos técnicos do projeto, aprofundar as informações, estabelecer o debate, e acompanhar o desenrolar dos fatos sobre a pertinência de seu licenciamento.
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Nesse tempo, a sociedade se dividiu em duas frentes que se opõem fortemente. Uma, que entende o projeto como vetor de desenvolvimento estratégico, e outra, que vê no projeto uma séria ameaça ao futuro da região.
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Temos tomado uma posição clara, e contrária, desde o início, especialmente quanto à localização do Complexo numa Área Protegida, mas temos nos permitido pensar em alternativas. Seria possível conciliar o novo modelo de desenvolvimento proposto com nossas inequívocas e históricas vocações?
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Os três fatores preponderantes que geraram o relatório contrário ao empreendimento são os mesmos que temos defendido em nossos editoriais. O primeiro deles se relaciona à contrariedade da localização do projeto em um ecossistema de alta vulnerabilidade ambiental e destacado valor para a biodiversidade.
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LOCALIZAÇÃO EQUIVOCADA: IMPACTOS NÃO PODEM SER NEGADOS.
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IBAMA: "que esta área de mata apresenta uma rica e preservada fauna associada, dependente dos recursos florestais, com altos índices de espécies ameaçadas e de endemismo, além de espécies não descritas para a região;"
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"que a avaliação de impactos detectou todos os impactos negativos para fauna como “muito significativos”;"

A segunda preocupação do parecer, também nossa, é aquela que descarta o licenciamento fragmentado, principalmente, do Porto da Bamim e Porto Sul, o que impede de prever e avaliar os impactos para o ecossistema.
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SEM PROJETO PARA O PORTO SUL, NÃO SE PODE MENSURAR IMPACTOS.
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IBAMA: "que a instalação do Terminal Portuário da Ponta da Tulha no local proposto deverá preceder a instalação do Porto Sul, cujos impactos não foram avaliados e que necessitaria supressão de uma área ainda maior de Floresta Atlântica; "
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E o terceiro ponto que gostaríamos de destacar é que o projeto, mesmo no Sul da Bahia, poderia encontrar áreas de menor impacto sobre a floresta e o ecossistema, uma proposta que temos defendido que seja mais bem avaliada (veja aqui).

Continuamos acreditando que seja possível, encontrar um caminho alternativo, reavaliando a localização do complexo de investimentos relacionados ao projeto, incluindo o Porto Sul, Porto da BAMIM, Aeroporto Internacional, ZPE e os complexos industriais que se pretende atrair em médio prazo como a siderurgia e as montadoras de automóveis.

A SOCIEDADE DEVE SE MOBILIZAR PARA ENCONTRAR ALTERNATIVAS LOCACIONAIS.
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IBAMA: "que podem existir na região, alternativas locacionais menos impactantes do ponto de vista ambiental, sem a necessidade de supressão de um importante remanescente preservador de Floresta Atlântica e sem a presença de recifes de corais na ADA (área diretamente afetada) e na AID (área de influência direta) do empreendimento;"

sexta-feira, março 11, 2011

Ofender pra que?

Ofensas roubam a cena para gerar novas ofensas, vergonhas, retratações e muito baixo astral, Ninguém gosta de ser ofendido, seja famoso ou anônimo, em cima ou em baixo do trio, por conhecidos ou desconhecidos. E pior, muitas vezes, fazemos isto sem perceber, sem termos consciência de que estamos magoando, e quando este mal atinge pessoas despreparadas a resposta pode ser muito pior que palavras, gerando dor e violência irreparáveis.

Ao ver os vídeos em que Ivete Sangalo se defende, muito bem por sinal, como uma baininha arretada, e que Marcio Victor do Psirico fica furioso ao perceber uma ofensa racista, resolvemos falar desse assunto.

O assunto é oportuno também porque a imprensa daqui está confeitada de ofensas que me incomodam como cidadão e já comentei sobre isso. Não se trata de calar a boca de ninguém, e nem muito menos de imaginar uma impressa que não seja corajosa o suficiente para denunciar, ou que não se sinta livre para mostrar a vida como ela é, e lançar mão do humor e das charges para incomodar, criticar etc, mas precisamos refletir sobre os limites éticos.

O CQC - Custe O Que Custar, comandado por Marcelo Tas, é o programa humorístico da TV brasileira mais elogiado dos últimos tempos, e grande parte do seu sucesso está relacionado com a coragem de falar "a verdade", ironizar, protestar e denunciar. Mas a fórmula desse sucesso é que os extraordinários jornalistas/humoristas do CQC conseguem ser livres sem perder de vista a linha fina do limite ético, e o expectador acaba perdoando os inúmeros excessos ao perceber que os valores estão presentes, e o objetivo final é o bem e a liberdade, além do riso.

Na imprensa regional, notadamente nos embates de opiniões sobre o complexo Porto Sul, tenho visto vários parceiros entrarem nesse campo minado e infértil que não colabora com nada, a não ser para manifestar o protagonismo de ofendedor e ofendido. São muitos os xingamentos e as ofensas entre lideranças locais, e também contra empresários e artistas de expressão nacional, motivada unicamente por discordâncias ideológicas.

Todo mundo pode falar o que quiser, mas tudo tem um limite. Existe um campo seguro da liberdade de expressão para denunciar, mostrar os fatos, desnudar a realidade, sem apelar para a ignorância. Em um artigo desse blog denominada Crise de Valores eu já mostrei minha indignação com as ofensas e insinuações maldosas que não poupam ninguém, e que fazem conjecturas assombrosas entre tráfico de droga, plantadores de maconha, ambientalistas e TV Globo, citando inclusive o nome de minha musa Vera Fischer como uma drogada, e tudo isto para mostrar desagrado da cobertura da imprensa nacional sobre a polêmica construção de um porto de minérios em Ilhéus.

Assim, reunimos em uma pequena pesquisa no youtube, alguns exemplos de que falar o que se pensa pode ser bom, mas ofender pode ser uma canoa furada. Quero deixar claro que o objetivo aqui não é censurar ninguém, nem impor limites de meu julgo, mas mostrar que todos nós estamos sujeitos a errar, a ofender, a falar sem pensar, e que a ofensa é um mal por si mesmo, e antes de mais nada, se auto denuncia.

CENA 1: Caetano de saia?



CENA 2 - Caetano vota Marina e chama Lula de analfabeto


CENA 3: Datena detona Caetano

CENA 4: Lula manda recado pra Caetano (Veja até o final!)

CENA 5: Caetano se retrata

CENA 6: Datena briga com colegas

CENA 7: Lula ameaça Boris Casoy


CENA 8: Boris Casoy humilha garis

CENA 9: Garis humilhados

CENA 10: Boris Casoy pedi desculpas

CENA 11: Dunga xinga jornalista

CENA 12: Carnaval 2011 Márcio Victor preto e pobre?

CENA 13: Carnalval 2001 Ivete cheirada?


CENA 14: Carnaval 2011 Ivete cheirada de novo? (Vejam até o fim!)

quinta-feira, março 10, 2011

A Reflexão do Desenvolvimento

O carnaval acabou, e desembocamos na quaresma, período de quarenta dias que antecedem a ressureição de nosso Senhor Jesus Cristo. É tempo de reflexão, e ela vem em boa hora, pois o país precisa refazer uma previsão de receitas superdimensionada para o progresso rápido, e o sul da Bahia precisa entender o maior pacote de promessas de sua história. Boa hora que trás a Campanha da Fraternidade com o tema Fraternidade e a Vida do Planeta, uma reflexão que está no centro das questões do desenvolvimento nacional e regional.
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Se o sul da Bahia ficou tanto tempo esquecido, vivendo na "autônoma ditadura social do cacau", ganhou do outro lado da moeda, uma inédita preservação de riquezas, tornou-se relíquia territorial, que agora se vê redescoberta por gregos e troianos, e é colocada na trilha das ambições do progresso nacional. Assim vem atraindo todo tipo de investimentos, de indústrias, tornou-se alvo de grandes especulações em todas as áreas, e podemos até dizer que o Sul da Bahia "está virando moda".
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É justamente nessa hora de tantos olhos sobre nós, que devemos nos conhecer e pensar nosso destino com a benção da reflexão sobre o desenvolvimento fraterno, e cuidadoso com o planeta . Reflexão que o Bispo Dom Mauro Montagnoli nos chama com encontro marcado no próximo domingo na Catedral de São Sebastião.
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De uma coisa já sabemos: o sul da Bahia está encontrando a porta de saída da crise econômica com suas próprias pernas, e prova disso são os investimentos privados no comércio, habitação e rede hoteleira, os milhares de turistas, etc. Mas existem muitas ideias vindas de fora que precisamos entender, e não são apenas ideias, são também interesses que precisamos conhecer a fundo.
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O pacote de projetos é grande, é impactante, é preocupante e precisa de todos os cuidados para que reflitam realmente a busca da felicidade, e que não venham a se tornar crimes contra a esperança de superação de um povo tão sofrido como o nosso.
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Ainda é um pacote de incertezas, visto que nas últimas décadas essa região foi desrespeitada com promessas políticas salvadoras inúmeras vezes. Mas, se por um lado, promessas nos assustam, temos também mais lideranças, e não apenas políticas, mas de toda uma sociedade se inteirando, que começa a se pertencer e se mobilizar por ideias. É como se a gente voltasse a sonhar com as mudanças necessárias e a realização de alguns projetos historicamente reivindicados.
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Entre os projetos fundamentais e necessários que esperamos durante décadas estão a duplicação da Ilhéus-Itabuna e a Estrada Canavieiras-Belmonte, mas tem outros que nunca fizeram parte do sonho regional, como uma estrada de ferro cruzando a Trilha Náutica da Lagoa Encantada e um Porto de Minérios na Ponta da Tulha. Temos também o "projeto fantasma" Porto Sul, o mais comentado, apesar de não existir e não ter sido apresentado para a sociedade. Fico arrepiado, afinal, não sou o único a perceber que o sul da Bahia é daqueles lugares extraordinariamente sensíveis que necessita de muito planejamento para se desenvolver sem destruir.

Por enquanto, nenhum sinal de obras ou grandes destruições extra corriqueiras de uma administração pública ineficiente no item planejamento do uso e ocupação do solo. Sabemos, no entanto, que essas grandes obras vão precisar não apenas de dinheiro, por sinal, muito dinheiro para um povo tão pobre e com um sistema de saúde e educação tão frágil, para uma comunidade vitimada pelo crack, sem nenhuma assistência aos dependentes, para uma gente que chora uma "interminável "lista" de jovens assassinados, especialmente jovens negros das periferias.

Vai precisar de muito mais que dinheiro! Vamos precisar de informação, de tecnologia de competência, e, sobretudo, de um forte compromisso com a ética, a vida e as futuras gerações. Mas eu acredito que vamos encontrar esse caminho abrindo a mente para a consciência ambiental, fazendo parcerias de vanguarda e se apoiando na boa ciência. Em um caminho novo, alternativo, em um novo modelo de desenvolvimento e uma nova realidade econômica, reciclada com os erros do passado e renovada com as tecnologias do futuro.
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Um futuro melhor para o homem e para a vida, como desfrutam os países do norte, tão à frente de nós quando o assunto é a proteção dos cidadãos e o rigor dos investimentos em agricultura, ecologia, indústria limpa, ciência e tecnologia, turismo, cultura, educação, saúde, lazer, enfim, em tudo que todos nós tanto reclamamos e precisamos melhorar também aqui nas terras do sol.
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Mas reconhecemos que sem dinheiro fica difícil realizar. Aqui em Ilhéus, por exemplo, uma associação endividada acaba de vender o Hospital e Maternidade Santa Isabel, onde várias gerações de ilheenses nasceram por uma bagatela dividida em dez prestações. Tenho a sensação que a prefeitura não tem dinheiro para quase nada, para intervir em momentos importantes como esse, e confesso que paro pra pensar quando ouço que nossa arrecadação de ISS com o Porto de Pedra subiria de cinco para cinquenta milhões, e me pergunto: Será o dinheiro uma referência soberana quando planejamos os rumos do futuro de uma região?


A igreja diz que não e nos chama para o milagre da fraternidade e o cuidado com o planeta. As promessas que queremos ver realizadas são de vida, e de vida em abundância que nos foi dada por coração generoso de Pai. E são os mistérios desse amor e doação que é nosso dever refletir humildimente, por uma salvação inteira no Jardin de Belas Flores, lar generoso de tudo o que existe.
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São muitas as promessas de quem está interessado nesse ou naquele projeto, e estamos atordoados de tantas notícias de investimentos que parecem cair dos céus prontos a nos tornarem felizes, como se isso fosse possível sem a materialização de uma boa administração pública e de um controle social eficiente para defender a vida. Não podemos esquecer que o dinheiro constrói, mas pode subestimar não apenas a natureza, mas também as pessoas e o Brasil são prova disso.
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Por enquanto, o que chama a atenção nessa região são os investimentos privados, que estão à pleno vapor, mas ninguém tem certeza quanto aos projetos públicos, se vão realmente acontecer, e principalmente, quando e como vão acontecer. O próprio governo do estado, reeleito, passou os últimos quatro anos prometendo, mas nesse tempo, a obra mais importante iniciada foi o Terminal Pesqueiro de Ilhéus.

Vimos ações emergenciais do governo federal na área habitacional e de saneamento, mas não fomos além disso. Nos últimos quatro anos, vimos muito mais da iniciativa privada com seus super shops, redes de supermercados e edifícios dizendo claramente "não acreditamos que essa é uma terra falida". Nos próximos quatro anos, esperamos então, que investimentos maiores sejam realizados, muitos dos quais, de grande impacto e com necessidade de bom planejamento, e planejar é refletir, e na democracia, refletir com o povo.
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Com esse emaranhado de expectativas, a sociedade está acordando através de redes e movimentos organizados. Entrou em ação a Associação Ação Ilhéus, que resolveu levar o "verbo refletidor" para a mesa dos políticos, e a exigir transparência pública. A associação recebeu apoio de um movimento maior, a Rede Sul da Bahia, que tem como inspiração, a defesa de um modelo de desenvolvimento norteado pela valorização das especificidades e vocações regionais, e orientado para a defesa de seu patrimônio socioambiental.

Também refletindo, e angustiados com a possibilidade dos movimentos anteriores conseguirem engessar os projetos mais impactantes ao meio ambiente, surgiu o Movimento Coeso, que também defende o desenvolvimento da região, mas que discorda dos anteriores quanto a legitimidade do Complexo Porto Sul, entendendo-o como um projeto âncora, redentor de nossa economia e quadro grave de desigualdade social. Um movimento de reflexão como os demais, mas que ainda não reconhece, como a Igreja está fazendo, que já foi o tempo em que cuidar do planeta era uma cachaça de eco-chatos, ou bio-desagradáveis, expressão mais atual para definir os eco-exagerados.

Mas por aqui não há exagero. Somos campeões quando o assunto é riqueza natural, e em minha opinião, esse é o nosso diferencial e nossa grande âncora para o futuro. Também precisamos compreender que meio ambiente não é mais uma agenda partidária do movimento ambientalista, assim como o tema da sustentabilidade não se restringe mais à questão puramente ecológica, tomando forma como expressão de um pacto de todos os setores da sociedade para garantir que as nossas conquistas sejam perenes.
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Seja como for, nossa reflexão tem sido vitoriosa. Ela ganha força todo dia na imprensa regional e muito além de nossas fronteiras, está nos fazendo pensar. O fato de estarmos se posicionando, ouvindo, buscando aliados para nossas ideias, discutindo alto e até mesmo "apelando aos nervos" já é um bom sinal. Se não somos unânimes, isso já sinaliza que estamos caminhando num movimento que vai dar na reflexão.


Se o carnaval acabou, e o ano começou, como dizemos no Brasil, é hora de acordar para um 2011 que se anuncia de arrocho geral, guardando as fantasias e pondo os pés no chão para rever nossos projetos de vida e reavaliar prioridades. Esse é um ano de pensar o futuro resolvendo os tantos problemas que já temos sem criar outros pela pressa capitalista. Se tudo passa, se nós estamos passando por aqui, se só o amor à vida não passa, não podemos deixar outra herança para os nossos filhos.
Veja a seguir 16 promessas e fiquemos de olhos abertos com a direção e o andar da carruagem, cientes que a maioria dos projetos não estão definidos, ou não têm licenciamento, ou não tem dinheiro previsto no orçamento, e portanto, também não possuem cronogramas de execução imagináveis. Mas Acorda Meu Povo (povo de Deus), que nós somos a força para fazer acontecer tudo aquilo que acreditamos de verdade.
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1 - Duplicação da Ilhéus - Itabuna
um dos projetos mais esperados de todos os tempos ainda não está definido, e ainda não temos nem o termo de referência para inicío dos estudos de impacto. Vamos nessa que o tempo urge, o governo passa e as promessas ficam.
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2 - Acesso Rodoviário da Entrada de Ilhéus
não existe projeto, não se sabe como seria o acesso da estrada duplicada até Ilhéus. Pensa-se em novas pontes e na possibilidade de ligação com o Nelson Costa. Não existe previsão orçamentária

3 - Construção do Semi Anel Rodoviário de Ilhéus
é fundamental para Ilhéus e redireciona o tráfego da BR duplicada de forma estratégica para a zona norte e sul da cidade. Já existe projeto antigo mas caminha devagar e tem estudos previstos para apenas um trecho.

4 - Construção do Semi Anel Rodoviário de Itabuna
é fundamental para Itabuna e para o projeto de região metropolitana, mas não tem projeto apresentado.

5 - Nova Ponte Ilhéus - Pontal
a comunidade está confusa e ainda não apresentou um projeto. Existem duas opções e as duas são essenciais de serem realizadas, só que em momentos diferentes. É uma questão de planejar obras de curto, médio e longo prazo. O problema é que temos dificuldade de planejar, e não podemos correr o risco de ficar sem a segunda ponte, uma "urgência hospitalar" para a cidade. Se não podemos ter Oscar Niemeyer (não sei por que), que chamem o melhor para nos ajudar a resolver esse problema com grandeza e com beleza.
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6 - Nova Orla de Ilhéus
a primeira reivindicação desse blog é fundamental e poderá ser um marco na melhoria dos serviços urbanos de Ilhéus, mais que isso, deverá recuperar a nossa auto estima se for bem realizado. Não existe mobilização, apesar de a área ociosa ser maior que todo o congestionado centro da cidade. A falta de um projeto (discutido com a comunidade) nos condena a esperar, apesar do Ministério das Cidades ter condições de atender essa demanda.
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7 - Estrada Canavieiras - Belmonte
é uma reivindicação histórica de nossa região, e vai beneficiar milhares de pessoas, encrtar distâncias, revelar paisagens novas e fortalecer o turismo. É agora ou nunca !

8 - Zona de Processamento e Exportação
será que existem dúvidas? A imprensa denuncia que as obras pararam e o escritório local está fechado.

9 - Aeroporto Internacional de Ilhéus
em fase de estudo, tem previsão de localização inadequada na APA Lagoa Encantada, mas é fundamental para o nosso futuro. Tenho esperança que seja redirecionado para o complexo de investimentos entre Ilhéus e Itabuna, como já foi pensado.

10 - Ferrovia Leste - Oeste
é a obra mais adiantada no licenciamento, mas são fortes os indicativos de que ela não desemboque no sul da Bahia, já que o licenciamento do porto privado vem encontrando fortes resistências do IBAMA e da opinião pública nacional.
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11 - Porto de Pedra
a obra enfrenta problemas sérios de licenciamento, e terá que enfrentar uma grande batalha com a justiça e a opinião pública caso continue projetada sob uma área de proteção ambiental reconhecida internacionalmente.
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12 - Porto Sul -
projeto do Governo Federal que eu chamei de fantasma por nunca ter sido explicado à população e nem apresentado ao IBAMA.

13 - Vila Olímpica de Ilhéus
uma ideia necessária que ouvi o prefeito sinalizar esses dias. Tem tudo para ser verdade, reorientando uma nova cidade, menos concentrada, reutilizando o espaço do atual campo no centro em benefício da comunidade. Estou na torcida que façamos um projeto e possamos aproveitar os recursos direcionados para a Copa 2014!
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14 - Aterro Sanitário
o escandaloso exemplo de desperdício de dinheiro público ainda está sem solução definitiva. O projeto realizado não deu certo. Precisamos de uma reengenharia completa, mas caminhamos com a promessa de resolvê-lo em breve... Será breve mesmo ?

15 - Orla Norte de Ilhéus
o prefeito anunciou, eu li, a emenda de recursos foi da então deputada Lídice da Mata, eu já reivindiquei aqui e não vejo a hora de Ilhéus, depois de séculos ter essa parte de sua orla central finalmente urbanizada. Vai melhorar o trânsito, e que paisagem extraordinária vai ser finalmente compartilhada, não é mesmo? Mas pesa a minha consciência que o governo não encare o problema da invasão da Orla da Barra, essencial para que essa nova avenida desemboque no Jardim Savoia, melhorando muito o fluxo nas ruas centrais do bairro. Estamos esperando !

16 - Porto de Ilhéus
não dá para esquecer dele, está assoreado e precisa de um bom dinheiro para se recuperar, mas não tem projeto global, só tem paliativo. Não se pensa em solução para os acessos, não se fala em estruturá-lo para o turismo, além de sua administração invadir a Soares Lopes, e detonar a primeira praça de contorno da avenida, palco desmantelado e revoltante do esquecimento completo do projeto de Burle Marx - maior paisagista do mundo.