quinta-feira, julho 05, 2012

Morre a Pataxó Zabelê: Mãezinha do Brasil

Em 2010, quando iniciamos a produção do documentário sobre o território do extremo sul da Bahia, intitulado “Impressões Nativas do Descobrimento” para o projeto 26 DOC´s da TVE-Bahia, sabíamos o que queríamos fazer: ouvir, entender, ampliar as vozes das comunidades tradicionais de índios, pescadores e pequenos agricultores do extremo sul da Bahia. O que eu, pessoalmente, não poderia imaginar, era que eu faria uma singela, e grande descoberta, e que me emocionaria muito.

Partimos em busca da anciã Luciana Texeira, conhecida como Zabelê. Já havíamos determinado, que ela seria o personagem principal do filme. Tratava-se da mais velha índia Pataxó, e última testemunha do grande massacre de 1951, quando ainda pequena, presenciou a tortura e assassinato de seus pais.
Diante de uma história de luta incrível, eu imaginava encontrar uma pessoa arredia, amarga eendurecida, mas encontrei Zabelê, anciã nativa, mulher frágil e delicada, de grande ternura nos olhos, e uma encantadora simplicidade. De imediato, fiquei sensibilizado com a sua presença, e à partir daí, iniciamos a gravação-vivência de um testemunho impressionante, que trás à consciência, as grandes injustiças cometidas contra os índios nativos da terra do descobrimento-achamento do Brasil.Estávamos diante de uma síntese brasileira: fé, amor no coração, caminhos errantes, injustiça que não se acaba...

Um relato de muita emoção nos dava conta, de que, Zabelê e o seu povo, depois de andar errante durante décadas, sempre em busca de uma terra com florestas, onde pudesse salvaguadar sua cultura, havia por fim, se refugiado no Parque Nacional do Descobrimento, chamando assim, a atenção do governo brasileiro para a sua existência, desejos e sofrimento.



Tão injusto, que mais parecia uma ficção. Algo inaceitável para os dias atuais, e para um país que deseja a justiça social. Estávamos ali, ouvindo um depoimento movido a lágrimas. Era a doce Zabelê, a mais velha índia da terra do descobrimento, em pleno século XXI, ainda sem terra, e esquecida por todos. Ela chorou várias vezes ao afirmar que seu único desejo, era que o seu povo tivesse direito a uma terra, onde pudesse manter viva a sua cultura. Também repetiu várias vezes, que não conseguia viver nas cidades, e que sua sonho era voltar a morar na floresta, como os seus pais viveram.

Diante do apelo de Zabelê, o nosso documentário tornou-se importante, e estávamos empolgados em ajudar aquela comunidade, e a própria Bahia e o Brasil, a revelar, valorizar e enaltecer aquela personalidade extraordinária chamada Zabelê. Personalidade, símbolo vivo, pessoa que deveria estar sendo agraciada, homenageada,  ouvida na grande mídia, mas que estava refugiada, privada do básico, do mínimo, da dignidade de possuir uma terra, do direito de expressão cultural.

E ontem à tarde, aos 79 anos, seu coração parou de bater, e estranhamente, perdemos algo muito importante, que nem conhecemos direito, algo que deixamos de resgatar, de justificar e satisfazer. Não compreendo como uma personalidade com uma biografia de lutas como Zabelê, pode passar anônima, sem ser percebida pela grande mídia, pela grane nação que a abandonou.

Nossa mãezinha, e filhinha do Brasil, trazia em si, uma síntese de nossa culturalidade, e de nossas mazelas nacionais. Ela partiu sem ver o seu sonho realizado, as suas terras demarcadas. Chora povo Pataxó, mas não percas a esperança de que os verdadeiros brasileiros ainda hão de te dar as mãos, como assim clamou Zabelê. Não esqueçais jamais de continuar em busca da justiça, e do amparo. Ficarão na nossa memória de produtores cinematograficos, as últimas imagens de Zabelê, registradas em 15 de agosto de 2010 na procissão de Nossa Senhora da Ajuda, onde a índia, crente do Deus Tupã, delicadamente vestida como os brancos, se misturava ao povo, em louvores e fé.

A história viva partiu, sem que pudéssemos devolver a Zabelê toda a honra que ela mereceu, como missionária verdadeira de seu povo, e do Brasil justo. Temos certeza que sua lembrança os ajudará os índios Pataxós, a elevar o seu nome como bastião da luta de seu povo, e de todas as comunidades tradicionais brasileiras, vitimadas pela especulação das terras e do capital.

“Ela sempre brigou para nós usarmos o tupsai e mostrarmos nossa cultura, e não termos vergonha de ser índios”, afirmou a filha de Zabelê em entrevista há alguns anos.

Descanse em paz, mãezinha querida do Brasil!

3 comentários:

Anônimo disse...

Como podemos ver o documentário?

Raku pra Lua disse...

Bom dia.
Fico muito sensibilizado com a morte de dona Zabelê... a cultura ficou mais pobre ... mas gostaria de questionar :
faço um trabalho ha mais de 3 anos na aldeia Pataxó da Jaqueira em Porto Seguro ,e lá convivo com uma anciã Pataxó de mais de 90 anos, dona Takwara mãe de Nitcxinawã, Jandaya e Nayara (as lideranças que fundaram a aldeia).
Façam contato com ela .
Tem muitas histórias lindas sobre a cultura e a luta Pataxó.
Vejam no www.rakupraluaprojetos.blogspot.com o nosso trabalho.
Obrigado.
AWERY

Anônimo disse...

Clive Kelly on 07/06/2012 at 11:17 am said:
WHEN I VISITED HER AT HER HOUSE IN PORTO SEGURO BAHIA BRASIL, 1987, SHE DANCED WITH ME, AND TAUGHT ME MANY FACTS ABOUT THE PATAXO LANDS. IN FACT I Had just bought a penninsula in burinhiem porto seguro, where i built a nautical museum and bar restaurante, i wasa then starting to bvuild a copy of the galleon nina which historians and liers say discovered brasil at porto seguro bahia brasil.PIO, PREPARED SPECIAL DISHES OF FOOD FOR ME WHEN I WORKED ON PROJECT < SEE FOTO FINISHED CREATION IN MY FOTOS FILE.ONE NIGHT AFTER VISITING HER ON THE SAO JUAN NIGHT, I WAS VICIOUSLY ATTACKED, AND BOTTLE BROKEN ON MY HEAD, I AWOKE THREE DAYS LATER THROWN INTO THE BUSH BY THE BEACH, A LETTER WAS SENT TO ME WHEN I RECOVERED THREATENING IF I CONTINUE TO CONSORT WITH THE PATAXO I WOULD BE DEALT WITH AGAIN?.