quarta-feira, novembro 25, 2015

O Rio Doce do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied

Ninguém poderia imaginar que o ano do bicentenário das primeira gravura do Rio Doce em Minas Gerais seria marcado com a transformação do que era belo e romântico, em um rio de lama.

Há duzentos anos, o Brasil encantou o mundo com suas florestas, águas, ouro e povos nunca antes vistos. Um dos ícones das viagens dos artistas e cientistas naturalistas que revelaram o Brasil foi o príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, que retratou todos os nossos rios da costa atlântica entre o Rio de Janeiro e Ilhéus, enquanto descobriu, estudou e nomeou plantas e animais.

Belíssimos rios degradados sangram no mar a irracionalidade do desmatamento em conjunto com insanidade ambiental, aliadas com a incompetência e subtração perdulária das riquezas do Brasil. Não conhecemos essa riqueza, quando viramos as costas para os rios, a mata, a biodiversidade, a diversidade cultural do Brasil. E o que dizer meditando no bicentenário da gravura do Rio Doce?

Não é possível voltar no tempo, mas devemos e aprender lições. Não dá para recuperar o que se perdeu, mas é possível sonhar com uma trilha diferente, como sonhado pelo príncipe Maximilian de Wied-Neuwied, Friedrich Sellow, Augusti Saint-Hilaire, Georg Heinrich Langsdorff e Alexander von Humboldt, dentre tantos e tantos que sofreram e sonharam pelo Brasil.

A lição do Rio Doce nos pede essa reflexão sobre o MODELO DE DESENVOLVIMENTO, ou um novo ENVOLVIMENTO da sociedade com as potencias e propósitos desta nação.  

Uma das gravuras da obra do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied retratou a paisagem do rio Doce. 

quarta-feira, novembro 18, 2015

Meu Pé de Cacau

Ilhéus é a terra do cacau, e nem adianta querer versar sobre isso, pois além de alguns dos maiores escritores brasileiros, temos de quebra, o maior contador de histórias do Brasil, o ator do "Teatro Macuco", José Delmo. Mas tem uma coisa em Ilhéus, além da Praça do Cacau que lhe marca a identidade de forma especial, que é o amor pelos pés de cacau.

O Theobroma cacau foi sempre ornamental, e aqui ele ganhou as praças, passeios, quintais e um lugar de honra no jardim principal. Adveio a crise, a desvalorização do fruto, mas nada mudou em nossos corações, e os pés de cacau ainda continuam embelezando a cidade de Ilhéus, e tomara sejam para sempre admirados como símbolo de nossa história.

Você verá em breve aqui, uma série de fotos que mostram que a árvore de cacau continua em alta no coração dos Ilheenses. A foto a seguir é de um cacaueiro que foi cortado, mas com certeza foi por necessidade. Outros serão plantados.


Invasão na APA da Lagoa Encantada e do Rio Almada destaca a necessidade de ordenação da ocupação territorial em Ilhéus

Ir à Lagoa Encantada e voar sobre a APA nesta semana para novas fotos exclusivas revelou uma ocupação irregular escandalosa, que que até agora se manteve muito silenciosa. Durante a segunda audiência do EIA-RIMA do Porto Sul, a promotora pública da Bahia, Doutora Aline Valéria Archangelo Salvador apontou que era fundamental que políticas públicas antecedessem a instalação do complexo. Três anos depois, aconteceu muito pior que o imaginado, e as localidades previstas inicialmente para um aeroporto e novo porto tornou-se alvo de uma invasão de movimentos populares. São áreas públicas, e algumas delas, impróprias à ocupação.

As invasões na APA da Lagoa Encantada e Rio Almada se apresenta como um manifesto popular, e uma forma de ocupar, e questionar a sociedade. Um ato coletivo de ocupação de áreas públicas, e de conservação, e não devemos esquecer que na mesma região, muitas propriedades privadas, também estão invadindo áreas de uso público, e descumprindo a legislação ambiental Alguns devem ter a  necessidade, mas é notório que outros se aproveitam da oportunidade.

É surpreendente o tamanho do que se apresenta como um “novo bairro”, uma frente de quilômetros de invasões  às margens das rodovias, e várias bandeiras de movimentos sociais. Um lugar sensível, envolvendo APP`s, se expande como uma frente aberta sobre a mata raríssima remanescente em cordão arenoso. Algumas ocupações não pouparam sequer às margens do pequeníssimo riacho que formam a barrinha do Joia do Atlântico.

O debate entre os interesses econômicos, o público e o privado pode ser relativo, mas a conservação é um direito da coletividade, sem condicionantes. É contundente que o poder público executivo, e o legislativo ilheense defina claramente qual o modelo de uso e ocupação do solo no litoral norte de Ilhéus, e comunique a população as suas decisões. Existe uma frase sobre essa APA do saudoso Coronel Guilhardes de Urucutuca em nosso vídeo sobre a Lagoa Encantada, que não me sai da consciência: “É preciso dizer ao povo o que é certo e errado, o que pode e o que não pode fazer”.  O modelo Joia do Atlântico precisa ser alvo de reflexão pela nossa sociedade. É possível planejar e definir um plano de ocupação que garanta a qualidade que ainda temos no futuro, e com toda a pressão especulativa que atraia esse litoral. Precisamos pactuar um plano diretor, socialmente aceito, justo, democrático, e mudar a situação atual.  

Mexer nas matas ciliares dos riachos que formam nossas barrinhas, não pode. Não podemos mexer em mata remanescente, sem definir sua estratégia local de sobrevivência, não podemos ocupar aterrado rio, como não podemos admitir loteamentos, e outros empreendimentos, que não assegurem na forma da lei a proteção de remanescentes compensatórios. Não deixemos de criar um mosaico de vegetação nativa protegida formando corredores biológicos, mantendo as águas, os guaiamuns, a nossa paisagem cheia de riqueza. E ricos, ou pobres, temos que cantar o verso de Ivan Lins: Depende de nós! 

Invasão é organizada espacialmente, mas a frente não tem fim.
O novo bairro na APA merece reflexão da sociedade sobre as regras da ocupação do solo em Ilhéus

Surge um novo bairro popular na área próxima ao local inicialmente previsto pata o novo aeroporto de Ilhéus.

A falta de uma norma, exigências e reclamação tronou normal a abertura de áreas protegidas com o uso do fogo.

Um plano diretor deve ordenar a ocupação em todo o município.

Inadmissível ocupação do riacho do joia do Atlântico

É dever do poder público definir e ordenar a ocupação do solo.

Joia do Atlântico - Barrinha ameaçada

Riacho continua a ser agredido

um novo bairro surge: Quais os seus limites?

Áreas de matas estão sendo suprimidas, perda cega sem compensação.

O modelo Joia do Atlântico precisa ser repensado

O debate das classes, o publico e o privado se somam nessa reflexão.

Os Principais Impactos da Ferrovia Oeste-Leste na Hileia Sul Baiana

Apesar da crise generalizada no setor, se Ilhéus vier a ser o destino final da Ferrovia Oeste-Leste (FIOL), revise os impactos mais preocupantes. Eles ocorrem desde a sua construção e continuam impactando ao longo dos anos de operação da ferrovia. É pontual, semipermanente e impacta de forma diferente cada lugar por onde passa. O traçado da ferrovia Oeste-Leste (FIOL) percorre em maior parte o semiárido com sua vegetação típica, e um trecho bem menor adentra a floresta semi decidual e ombrófila na região cacaueira do sul da Bahia, onde se teme os maiores impactos. O rio de Contas é o grande personagem do trajeto da ferrovia, e acho pessoalmente que ela passa muito próximo ao seu leito, em suas cabeceiras e na região da cidade de Jequié. Também muito próxima da cidade.

É depois de Jequié que a ferrovia projeta-se para entrar na província atlântica, áreas consideradas de interesse para a proteção do bioma da Mata atlântica. Os impactos foram discutidos em audiências, mas poucos sabem sobre eles.

Durante as obras, a supressão de vegetação é a primeira grande preocupação. O impacto da extinção é o pior e o mais grave, e o primeiro na lista de prioridades. Erros podem ocorrer, e existe essa tendência pelo pouco conhecimento desse ecossistema. Uma espécie nova e ainda desconhecida, uma comunidade importante, distinta e específica, ou o nicho diferenciado de alguma espécie pode passar despercebido. É preocupante porque não se tem certeza absoluta da identidade dessa fauna e flora, e uma espécie rara pode ser uma erva de aparência comum. Por outro lado, é impraticável um trabalho botânico minucioso, e certificado cientificamente sobre o que está sendo retirado do ecossistema. A mitigação é democratizar a informação, e ampliar a participação, ante cada cem metros que se autorize avançar a ferrovia pela hileia, e suas roças de cacau.

O segundo grande impacto seria a criação de uma barreira biológica, o que vale para qualquer ecossistema. Isto faz pensar em toda a cadeia alimentar, desde a onça, os bandos de caititu, no que diz respeito da comunicação genética entre grupos de animais já reconhecidamente ameaçados, e todos os outros. Pequenos atalhos sob a ferrovia podem não ser suficientes. Como foi dito em audiência que a presidente Dilma pediu o uso das tecnologias mais modernas, creio que deveríamos ter trechos bem maiores de ferrovia suspensa. Quando falamos na barreira, também estamos falando de centenas de caminhos de pessoas, burros, trabalhadores que terão a mobilidade alterada.

O terceiro grande impacto é o risco de poluição e contaminação. Não é preciso ser inteligente para não desejar que centenas de vagões de minério de ferro passem em frente a sua casa, seu bairro ou sua roça de cacau e banana. O que preocupa em primeira ordem é a possibilidade ou probabilidade de pó de minério se dispersar de alguma forma, aumentando o impacto sobre todo o ecossistema biológico, e social do entorno da ferrovia. Também existe, sobretudo, nesse trecho com topografia e condições climáticas mais adversas a possibilidade de um acidente com os vagões, e suas repercussões.

O quarto impacto está relacionado às águas, e aí é preciso ampla fiscalização e todos podem ajudar caso vejam alguém barrar a água doce em sua terra. Saiba a engenharia, e as melhores tecnologias permitir que toda a água circule, e drenar adequadamente as áreas impermeabilizadas. A chegada da ferrovia sobre uma delicada bacia hidrográfica formada por centenas de veias, e próxima à Lagoa Encantada aumenta geometricamente as possibilidades de contaminação das águas.

Um último impacto pode se dar no campo mais amplo da identidade cultural, a figura da hileia, da região cacaueira, e é preciso tomar cuidado para que a associação ao minério não comprometa a imagem e qualidade do cacau do sul da Bahia, que vem sendo conquistada com grande luta coletiva.
                        
Supressão de vegetação nativa nessa região requer extremo cuidado

O traçado da ferrovia se aproxima muito do rio de Contas

Esse processo precisa ser transparente

A ferrovia segue o rio de Contas desde o cerrado

Intervenção é histórica

Ferrovia atravessa dezenas de roças de cacau

Qualidade e imagem do cacau do sul da Bahia não pode ser prejudicada

terça-feira, novembro 17, 2015

O Avanço da FIOL na Mata Atlântica

Em 2013, registrei as primeiras imagens do avanço da Ferrovia Oeste-Leste para seu traçado final, entre o último cacto e o primeiro pé de cacau sob o bioma da Floresta Atlântica no sul da Bahia. O registro foi feito no município de Gongungi, e trás as primeiras impressões da linha do trem que está projetada para cortar e dividir o sul da Bahia no meio.

Agora, com mais um decreto presidencial referendando a construção do Complexo Porto Sul, como uma obra de interesse nacional, as licenças para a ligação final da ferrovia com Ilhéus começam a se tornar realidade física. Esta semana observei novas imagens nas redes sociais de obras da ferrovia, que denunciavam aterro de brejos.

Como jornalista, gostaria de registrar cada canto, cada lugar dessa hileia, cada metro quadrado, cada árvore suprimida, e verificar se está sendo feito direitinho, pois precisamos saber tudo o que aconteça com essa mata rara. Estamos diante algo muito sério, uma intervenção histórica que mudam as coisas, primeiramente, no meio ambiente. Esse patrimônio só nosso, a última floresta higrófila do leste oriental do Brasil, essa raríssima floresta de tabuleiro, refúgio repleto de espécies exclusivas e endêmicas.

Uma ferrovia penetrando essa ilha verde, a hileia sul baiana em sua potencia máxima, e o histórico e pouco conhecido ecossistema onde cultivamos o nosso cacau é uma questão altamente delicada para quem acompanhou os estudos do projeto. Se está acontecendo as obras, é preciso olhar de frente a realidade, o impacto no ecossistema ecológico e social é o que interessa.

É preciso acompanhar o cumprimento das condicionantes, e entender a obra é um direito de todos. Não vejo outro caminho para enfrentar os novos desafios, e honrar os acordos públicos do EIA-RIMA, sem a participação. São os nossos pertences, o bom e o ruim, o lucro e a perda, o investimento na obra, e a reparação de danos. A ferrovia é uma mudança histórica, e, apesar de ela ser considerada um importante vetor de desenvolvimento para o Brasil, ela é uma contundente barreira ecológica dentro da galápagos verde do sul da Bahia.

Imagem nova das obras da ferrovia que circulam nas redes sociais. Abaixo o registro de 2013.

                           



                                                                            








                                 





 






sexta-feira, novembro 13, 2015

Bataclan de Ilhéus foi uma homenagem a Paris

Nome vem de uma opereta do cantor alemão Jacques Offenbach
Na noite de 13 de novembro de 2015 a casa de espetáculos Bataclan francesa foi palco de um atentado terrorista quando decorria um concerto da banda norte-americana Eagles of Death Metal. O ato foi executado por quatro terroristas, dos quais três se suicidaram com explosivos e um foi morto pela polícia. O ataque fez parte de uma série de ataques simultâneos em Paris e às proximidades do Stade de France, local onde ocorria uma partida amistosa entre as seleções da França e Alemanha. Proprietários judeus e festas pró-Israel podem ter motivado a escolha do local.

O teatro de Paris que à partir de hoje passou a simbolizar o horror insuportável do maior atentado da história da França, a sala de espetáculo Bataclan, localizada no 11.º arrondissement, uma construção de 151 anos, erguida em 1864, tem em Ilhéus uma casa homônima, também muito antiga. O Bataclan daqui foi construído pelos cacauicultores, próximo ao antigo cais do porto e a grande feira da Dois de Julho, e representa a riqueza do cacau entre 1826 e 1938. 

Foi imortalizado na obra de Jorge Amado, e representa mais uma aliança simbólica entre os ilheenses e os franceses, além do chocolate.O Bataclan de Ilhéus, essa terra que é também feita de imigrantes Sírios e Libaneses, que há muito tempo fogem da guerra, tem sido conservado. É um Patrimônio histórico Cultural da cidade, e está  em funcionamento com um museu, restaurante e espetáculos teatrais e musicais.

O nome vem da música francesa do romantismo de 1855, uma das primeiras operetas do cantor francês nascido na Alemanha, Jacques Offenbach. Faz parte das operas da "chinoserie". Você pode ouvir aqui com a soprano Monique borrelli na Opéra au village Pourrinères, em 2007, ou, leia mais.

Bataclan de Ilhéus homenageou Paris.
Bataclan de Paris, em 2008.
Bataclan de  Paris, em 1900.