sexta-feira, dezembro 04, 2015

Cacau, Sul da Bahia e o IDH do Sofrimento.


Muitas vezes não temos consciência do que sofremos. Moramos em um paraíso ecológico ameaçado de todas as formas, em que sua história, gente maravilhosa, biodiversidade extraordinária e recorde mundial de especies lenhosas por hectare estão se perdendo. É um paraíso marcado pela dor e sofrimento, desde sempre, e que quer se realizar como paraíso, e esquecer seu passado de sofrimento de índios, negros, e os retirantes da seca que se transformaram em Coronéis do Cacau. 

O cacau fez a gente daqui sonhar um grande futuro para São jorge dos Ilhéus, estrela do Brasil desde as primeiras décadas do descobrimento, e terra desejada desde os primeiros imigrantes que chegaram com a Princesa Isabel no início do século XIX. Mas o Brasil vai atrasado na 85º colocação no Ranking de IDH dentre 187 países (PNUD-ONU, 2012), e o sul da Bahia, que sonhou com o cacau, recebeu um duro golpe com a crise biológica da lavoura, e se transformou em uma terra miserável. Em um pais em crise, a Bahia vai lá na 19 posição do IDH brasileiro (PNUD-ONU, 2010), e o sul da Bahia é um Território da Cidadania desse estado, ou uma região reconhecidamente com os piores índices da Bahia. 

A terra revirou, e o paraíso se tornou perverso consigo mesmo, se destruindo por dentro, tornando-se pobre, ainda mais dividido, e a terra e o povo foram esquecidos de todos os poderes. Mais dor na terra das fileiras de jovens negros mortos, e caboclos rechaçados, mas Ilhéus recebeu, desde 2009 até os dias atuais, uma multidão de refugiados da crise do cacau, e se transformou na terra da esperança para os "sem terra", que ocuparam então, grandes áreas de manguezais.

Nesse Brasil rico, decaído de sua honestidade consigo mesmo, o sul da Bahia é o exemplo de um povo e uma terra que sofre, um solo injustiçado, palco da degradação da biodiversidade global. O sofrimento tornou-se tão evidente quanto suas lindas paisagens, enquanto a violência e a intolerância explode na ponta das crises. Os políticos não conseguem nos tirar desse cordão de injustiças socioambientais por onde enveredamos, nos perdemos, e estamos sofrendo.



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