sábado, dezembro 26, 2015

Temistocles Verçosa, e a saga dos grandes artistas anônimos.

   Eu não tive como amigo, outro artista mais completo que Temistocles Verçosa, ou Temi. Poeta, músico, letrista, pintor, desenhista, escultor e uma personalidade marcante. Eu fico me perguntando qual a missão de um jornalista, e me respondo com frequência, ao menos, deveria ser contar as histórias que testemunhei, e não deveriam se perder. Histórias de artistas como Temi, mais um "homem lenda" que brilhou na saga do anonimato, como talento submerso, ferido da mídia, e teve sua obra despedaçada, sem testemunhas públicas, sem biografia adequada. Isto enlouquece um jornalista interessado em cultura, me sinto obrigado a dizer um mínimo possível sobre eles. Personalidades como Reizinho, o cantor mais popular de Ilhéus, ou meu parceiro musical Fernando Mendonça, também, o grande Annunciação, referência artístico-cultural para a historia da música da Bahia, e do Brasil, todos sem o devido reconhecimento. 

   Nesse momento tento sair desse sufoco, falando de Temistocles.  Conheci Temi em 1985, quando o poeta sofria o drama da sobrevivência no Rio de Janeiro, sem abrir mão de seus ideais de vida. Ele foi artista por inteiro, e fez da vida a própria poesia. Foi um homem de convicções sobre a lealdade e a busca da verdadeira arte, e espiritualidade. Esteve na Bahia no começo da década de 80, onde deixou um rastro, um único registro na história da arte no disco do Rei do Reggae da Bahia, Lazzo Matumbi. 

   Lhe conheci em uma de suas melhores fases, quando produzia as mais belas esculturas, cheias de requintes, detalhes - um estilo clássico. Sua poesia era densa, dolorosa, árida, passional, se contrapondo ao doce, eterno. Seu retrato de homem, o nordestino. Parecia flutuar quando pintava, e tudo o que se propunha a fazer, era com maestria, rigor e um processo muito íntimo de criação. Produtivo, num dia, nascia uma poesia ou uma melodia, noutro, um quadro com quaisquer tinta, ou uma série de esculturas em barro. Depois migrou para arte em pedra, performances públicas, e protestos ecológicos nas praias perto de Vitória, no Espírito Santo. 

Esteve em Ilhéus por dois anos, morando em casa de amigos meus, a Eflorzina Skilians, Florianel Portela e Paulinho Batera, e  chegou a ser ajudado pelo empresário Givaldo da Emapel. Temi, o carioca-capixaba de olhos de azuis profundos partiu em 2005, deixando um rastros de saudades, não apenas para a viúva Maria do socorro, seu filho Ivan e o neto que herdou seus olhos azuis, e que não chegou a conhecer, mas para todos que lhe viram passar. Polêmico e brigão, sozinho e eterno, o homem que odiava a falsidade, e amava a arte foi um homem-artista único. 








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